quinta-feira, 9 de abril de 2009

Uma visão sobre a guerra..

A vivência de uma guerra será, por ventura, a experiência de vida que mais marcas deixa num indivíduo. O clima de terror, de pânico e de desespero, a constante vigília e suspeição permanente e a observação in loco de atrocidades são acontecimentos de vida que indubitavelmente provocam uma alteração no modo como quem os experiencia vê o mundo e se comporta. Se acrescentarmos a estas “condições da guerra” o facto de os conflitos étnicos decorrentes da Guerra dos Balcãs terem separado famílias que subitamente combatiam entre si (por exemplo, antes de a guerra rebentar os casamentos entre sérvios e bósnios e sérvios e croatas eram frequentes) podemos concluir que , tal como os edifícios, também as pessoas ficaram com marcas irreversíveis da guerra. Podemos questionar-nos acerca do modo como quem viveu estes conflitos lidou ou lida permanentemente com aquilo que viu e viveu. É pertinente olhar para as consequências da guerra a nível individual mas também na cultura dos povos dos Balcãs. Quais são as marcas que ficaram da guerra ?
Hoje em dia, passados quase dez anos desde que o conflito na região acalmou, os sobreviventes da guerra carregam diariamente o peso daquilo que vivenciaram. Da Eslovénia até à Bósnia as marcas da guerra ainda figuram na paisagem. Os campos de minas anti-pessoais são visíveis assim como as marcas de balas em edifícios por toda a região. A exposição permanente a estes estímulos faz pensar que a guerra ainda é recente mas quais serão as feridas que já estão saradas ? E quais estarão ainda abertas ?
O massacre de Srebrenica foi um acto de genocídio em que a aldeia de Srebrenica na Bósnia foi dizimada pelos bósnios sérvios (isto é sérvios residentes na Bósnia). Foram mortas cerca de 8000 pessoas e foi o maior assassínio em massa desde a 2ª Guerra Mundial. Aliás as semelhanças entre este massacre e o massacre do gueto de Varsóvia durante a 2ª Guerra Mundial são diversas. Desde logo o facto de se tratar de uma minoria, cercada num bairro e que foi brutalmente dizimada pelo grupo maioritário. O facto de haver uma diferenciação entre “nós” e “eles” e uma desvalorização do outro estarão provavelmente na origem destes actos brutais. Em Varsóvia milhares de pessoas foram perseguidas até a morte pelo simples facto de serem judeus, em Srebrenica milhares de pessoas foram perseguidas até à morte pelo simples facto de serem bósnios muçulmanos. Srebrenica era inclusivamente uma zona protegida pelas Nações Unidas mas tal facto não impediu que este acto de genocídio ocorresse. Este exemplo de um massacre decorrente do conflito nos Balcãs é um acontecimento que tão cedo não será esquecido e, certamente que para os bósnios será ainda uma “espinha atravessada na garganta”.
A memória deste e de outros actos brutais ocorridos nos anos 90 associada à proximidade geográfica ajuda a explicar o clima de “paz tensa” ou “tensão pacífica” entre bósnios e sérvios. Este ambiente de rivalidade e hostilidade reprimida de parte a parte levou a que recentemente, durante o Open da Austrália em Ténis após uma partida que opôs um jogador sérvio a um jogador bósnio os adeptos se envolvessem em confrontos violentos. Confiram no vídeo.

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